Muitas discussões têm ocorrido nos últimos anos a respeito do fato de os filmes de terror estarem sofrendo grandemente com altas quantidades de clichês e a falta de originalidade. Dentro deste gênero, entre alguns dos segmentos mais saturados podemos citar os filmes ao estilo found footage e possessão. A Possessão de Deborah Logan (The Taking of Deborah Logan, de 2014) pertence exatamente a essas duas especificações, ou seja, trata-se de um filme que, à primeira vista, já estaria fadado ao fracasso. Felizmente, este não é o caso.
O longa dirigido por Adam Robitel acerta por causa de uma mistura de características muito bem combinadas. A primeira delas se deve ao fato de que a escolha pela adoção do formato found footage não é gratuita e nem forçada. Aqui, não veremos um grupo de pessoas filmando aos acontecimentos sem nenhum motivo verossímil. No longa, acompanhamos uma estudante chamada Mia Medina (Michelle Ang) quando ela dá início às filmagens de um documentário com a finalidade de documentar os aspectos do Alzheimer, acompanhando a rotina de Deborah Logan (Jill Larson), que é portadorada doença, e de sua filha, Sarah (Anne Hamsey). Os problemas acontecem quando estranhos fenômenos começam a acontecer na casa onde a equipe está hospedada com mãe e filha, acontecimentos estes que não fazem jus à doença, mas que dão início a uma série de eventos muito estranhos e aterrorizantes.
O segundo fator que enriquece o longa é o roteiro extremamente bem amarrado que, apesar de conter pequenos furos, é bastante feliz ao desenvolver uma estória peculiar e com personagens bastante interessantes. Durante o primeiro ato e o início do segundo, o expectador não suspeita de que possa haver uma presença maligna naquele ambiente, pois realmente cremos que estamos acompanhando a rotina de uma mulher doente. A reviravolta acontece quando os acontecimentos começam a adquirir tons inegavelmente sobrenaturais.
O terceiro fator é a maquiagem, que é tão bem produzida que passa de maneira bastante expressiva a transformação da personagem em uma coisa frágil e sinistra. Destaque para as cenas envolvendo (spoiler) a remoção da pele da mesma (fim do spoiler). Por fim, mas não menos importante, o quarto fator positivo e original desse longa se deve a atuação de duas personagens, a mãe e a filha.
Todo o elenco está bem, mas não ganha grande destaque. Com exceção das duas personagens citadas, a primeira demonstrando ser uma senhora frágil com momentos extremamente paradoxais, quando se mostra perversa e impulsionada por forças além da compreensão, e a segunda, uma filha fiel que, mesmo sofrendo graças aos conflitos que sofre com sua mãe, não deixa que as dores atrapalhem em sua devoção para com ela, enfrentando a todos os desafios para tê-la de volta, custando o que custar. Pode-se ver nitidamente isso quando a vemos se embrenhar no meio de um local escuro, com algo sinistro à espreita, sem se permitir nem um mínimo momento para hesitação.
Contudo, nem tudo são flores em A Possessão de Deborah Logan (em se tratando em um filme de terror, há quem possa dizer que nada são flores, diga-se de passagem), pois o filme, apesar de original, cativante e sinistro, perde boas oportunidades no que diz respeito aos sustos. Em muitas cenas, o filme deixa de assustar o expectador, optando por soluções menos amedrontadoras. Não que a obra não possua sua cota de belos momentos aterrorizantes, o que de fato, não chega a deixar nenhum fã desse gênero insatisfeito. Destaque, inclusive, para uma cena no meio da caverna envolvendo uma criança e uma boca de cobra, sem dúvidas, a cena mais perturbadora de todo o longa e que fica por um tempo na memória.
Com altos pontos fortes e com uma originalidade digna de nota – contando inclusive com uma completa fuga de clichês quando um dos membros da equipe de filmagens, ao ser exposto a momentos sobrenaturais, simplesmente deixa o local, fugindo à maioria das recorrentes ferramentas de roteiro utilizadas em filmes de terror – A Possessão de Deborah Logan é um filme divertido, cativante, assustador em alguns momentos. Sim, no primeiro ato e em boa parte do segundo, não há sustos. Estes apenas ocorrem após a segunda metade do longa. O filme conta uma estória peculiar, com personagens interessantes e que te cativam até o último frame. Sem dúvida, uma ótima indicação para os cinéfilos apreciadores de histórias assustadoras.