Depois do sucesso de Hereditário, Ari Aster tornou-se um nome a se acompanhar quando falamos em terror moderno. O diretor desenvolveu uma atmosfera claustrofóbica e aterrorizante afastando-se de clichês do gênero. Ao anúncio de Midsommar: O Mal Não Espera a Noite, esperava-se uma obra superior ou, no mínimo, similar.
A introdução do segundo filme do diretor e roteirista lembra bastante os moldes de seu primeiro. Ambientes escuros e uma fatalidade angustiante permeiam a abertura, mas com o desenrolar da trama, jamais volta à essa forma, usada anteriormente com louvor. O que vemos em Midsommar é bastante diferente de Hereditário.

Acompanhamos a história de Dani (Florence Pugh), que vive um relacionamento tóxico com Christian (Jack Reynor), e após uma tragédia familiar, ele a convida para a viagem que faria com seus colegas à Suécia. No entanto, o que o grupo achava ser um tranquilo festival de verão local acaba por se tornar um pesadelo. Isso é bastante evidenciado por uma sequência inicial em que eles seguem de carro até o vilarejo. Em uma estrada comum, a imagem vira de cabeça para baixo, já indicando que nada daquelas férias seria normal.
A chegada ao povoado parece um sonho. Extensões de folhagens verdes, um céu completamente azul, coroas de flores, todos vestidos de branco e com sorrisos prestativos em seus rostos. A fotografia superexposta para criar um cenário ainda mais claro foi bem utilizada. Inclusive, o elemento “dia” é muito positivo, distanciando-se muito de outros filmes do gênero que aderem à escuridão da noite para conceber um clima de tensão. Em Midsommar, tudo acontece sob a luz e isso só o deixa mais estranho, mas até aí em um bom sentido.
A fotografia e a direção de arte são grandes acertos da produção por triunfarem em construir um panorama bonito e aberto e, ao mesmo tempo, abafado e inquietante. A obra é repleta de cenas simétricas e distorcidas e, no começo, agradáveis para o olhar. Quanto mais adentramos naquele espaço, o equilíbrio visual passa a incomodar, o que é um efeito interessante.
O elenco também está incrível, com destaque para a protagonista que entrega uma atuação desesperadora. Conseguimos sentir sua aflição. No entanto, os pontos positivos param por aí. Apesar do grande potencial do filme, sua execução está próxima do pretensioso. É possível que Ari Aster tenha se perdido no grande frisson depositado nele e, com isso, a obra acabou se tornando um grande absurdo, não em um bom sentido.
No primeiro ato, toda a ideia daquela comunidade esquisita incita uma curiosidade e seduz o espectador. Já no segundo, ela passa a ficar irritante. No terceiro, o bizarro aproxima-se do tédio. É tudo muito over, exagerado e força uma barra desnecessária. Os hábitos culturais e, sob nosso olhar, excêntricos daquela sociedade são, num primeiro momento, intrigantes, mas depois transformam-se em um grande delírio grotesco.
Muitas vezes, é utilizada uma violência gráfica que não agrega e o filme é lento em suas duas horas e vinte de duração. Em alguns momentos, nada acontece, não existe uma tensão e terror crescentes. Além disso, o roteiro escrito pelo próprio Aster, parece esquecer de alguns personagens criando destinos a eles apenas para resolver um problema. Ainda, a história poderia seguir por vários caminhos, mas acaba indo para o previsível e clichê. É a primeira imagem que vem à mente quando se fala em rituais pagãos, o que pode até ser um pouco estereotipado.
Mas assim como em Hereditário, acredito que Midsommar também tenha entrelinhas. Como o primeiro trabalhou temas como luto, insanidade e família através do sobrenatural, o segundo também pode ser visto como uma alegoria. Voltamos ao casal principal, em que Dani vive nitidamente um relacionamento nocivo, além de lidar com todo sofrimento guardado pela tragédia acontecida. Durante todo o filme, a observamos reprimir essas emoções, a tristeza e a revolta. O final é seu momento de libertação, emancipação, de toda aquela dor. O que poderia ser notável não fosse o excesso com que tudo foi representado.
Em resumo, Midsommar: O Mal Não Espera a Noite causa uma boa dose de sensações. Angústia, desconforto, incômodo, nojo, repúdio, irritação, entre outras. É um filme difícil de esquecer. Então, deixo-lhes a seguinte questão: criar essas reações no público foi exatamente o objetivo de Ari Aster ou algumas pessoas podem alegar isso para desculpar um diretor com grande potencial, mas que apenas frustrou expectativas?