A atual franquia de 007 estrelada por Daniel Craig, pode ser considerada um marco no universo cinematográfico de James Bond. Iniciada em 2006 com Cassino Royale, desde o princípio, estipulou-se um novo viés ao mais famoso agente secreto da ficção. Nas outras franquias estreladas por Sean Cornery, Roger Moore, entre outros, 007 era representado como um agente praticamente infalível, mesmo nos piores momentos, tudo estava sob o seu controle.
A partir de Cassino Royale, isso mudou. A franquia foi resetada, e dessa vez James Bond era inexperiente e havia acabado de ganhar a sua licença para matar. Nesse filme cometeu uma sucessão de erros, se mostrando vulnerável e ingênuo, chegou a ser torturado pelo vilão, tendo que ser resgatado no final do filme. Há algumas décadas isso era inimaginável, o charmoso e astuto 007 jamais passaria por tamanha humilhação.

O filme sequencial, Quantum of Solance, não teve o mesmo êxito de seu antecessor, revelando-se fraco na avaliação da crítica e do público. Já Operação Skyfall (2012), dirigido por Sam Mendes, retomou o fôlego com mais criatividade e com uma perspectiva ainda mais densa no que se refere às fragilidades do agente. Dessa vez, Bond precisa impedir que um grupo de terroristas tenha acesso a um HD com uma lista das identidades secretas dos agentes do MI6.
Um resumo de Operação Skyfall
Operação Skyfall começa com uma longa perseguição, mesmo com a ajuda de sua parceira Eve (Naomi Harris), o alvo escapou graças a uma trapalhada da dupla. Durante o combate corpo-a-corpo entre 007 e o bandido, Eve atirou com uma sniper e acertou Bond. Ele despencou do alto do trem ferido e foi dado como morto. Uma cena inédita e ousada na filmografia do galante agente. Apesar de ter sobrevivido, Bond pensa na possibilidade da aposentadoria, sua forma física decaiu. Ainda assim, depois do MI6 sofrer um ataque com quatro agentes mortos, decidiu voltar a ativa.
Gareth Malory (Ralph Fiennes) passou a supervisionar as ações de M (Jude Dench) depois da perda do HD. Ele discordou da decisão dela em permitir o retorno de Bond, entretanto, por mais que ela esteja enfrentando o processo de aposentadoria, ela ainda é a principal responsável do MI6.
A caçada pela lista e pelo grupo terrorista continuou, a cada semana o grupo estipulou e divulgou os próximos alvos que seriam assassinados. Bond foi para a China, lá encontrou o homem que deixou escapar depois de levar o tiro. Porém, mesmo Bond vencendo a luta, o alvo solta a mão do agente e despenca do alto do prédio, mantendo assim o sigilo dos terroristas. Ao menos obteve uma pista, junto com o bandido havia uma ficha de cassino, o que o levou para Macau.

Durante a luta havia uma mulher em outro prédio observando e lá estava ela no cassino, ao reencontrá-la, conversaram rapidamente. O suficiente para 007 descobrir que o marido da moça é o empregador do bandido que caiu do alto do prédio. Depois de lutar com alguns guardas, Bond vai encontrar a misteriosa mulher em seu barco e pede para ela o levar até ele. Então, para descobrir a identidade do vilão, o agente se deixou capturar.
Enfim, o mentor do plano é revelado, ele se chama Raoul Silva (Javier Barden), que foi um agente de M por 10 anos. Revelando-se um grande vilão, perspicaz e desafiador, digno de uma trama complexa como Operação Skyfall. Ao dialogar com Bond, afirma que M é mentirosa e maquiavélica, transformando os agentes em ratos. Ao hackear as informações do MI6, teve acesso aos testes do errante protagonista, reprovado em todos. Com um toque irônico e ao mesmo tempo assediador, o vingativo ex-agente tenta provar para Bond o quanto é ultrapassado o trabalho de campo. Atualmente, os maiores atos manipuladores, seja desvalorizar as ações de uma empresa ou alterar o resultado de uma eleição, são feitos pelo computador.
Em uma sádica prova de fogo, o vilão colocou a própria esposa amarrada de pé com um copo na cabeça e pediu para Bond atirar no copo. Depois do agente errar, Rauol atirou nela e a matou sem pestanejar. Em uma manobra de distração, 007 baleou os seguranças e rendeu o vilão, em seguida, convocou a equipe para capturá-lo.
No interrogatório, Raoul confessou o motivo dos seus ataques, segundo ele, foi preso e torturado pelos chineses. Ingeriu uma cápsula de cianeto, para não revelar informações secretas, entretanto, milagrosamente sobreviveu, mas com deformações graves. Posteriormente, descobriu que foi traído por M. Segundo ela, de fato, ela o denunciou para os chineses, pois havia desobedecido as ordens dela e ele insistiu em hackeá-los. Dessa forma, M fez uma troca por 6 agentes e uma transição pacífica ao entregar Raoul.
Bond e Q, o responsável pelos sistemas de informática da agência, vasculhavam o sistema de Raoul e encontrarem um código relacionado a uma antiga estação de metrô. O vilão novamente os surpreendeu e hackeou o sistema do MI6, enquanto isso, ele foge. Na verdade, ele permitiu ser preso, pois queria encarar M face a face e por fim assassiná-la. A ousada tentativa ocorreu no meio do julgamento de M, porque ela precisou se justificar devido a falha da segurança em perder o HD. Gareth foi baleado para proteger M. Dessa vez Bond chegou a tempo para salvá-la e o vilão escapou.
Bond leva M para a sua cidade natal, em Skyfall, e assim escondê-la de Raoul. Em questão de pouco tempo, o obcecado terrorista os localizou e foram atacados implacavelmente pelo seu exército, em uma sequência espetacular. A casa foi totalmente destruída, M fugiu, porém foi pega por Raoul.
No final, 007 arremessou uma faca pelas costas do vilão antes de atirar em M e o eliminou, uma pequena vitória do antigo contra o moderno. Entretanto, M foi ferida durante à invasão e não resistiu ao ferimento. Mais uma falha no currículo do agente, apesar de todos os esforços. Como o MI6 não pode permanecer sem uma liderança, Gareth assumiu o posto de M. Outra grande mudança no universo de Bond, pois depois de vários filmes, M foi substituída.
A obsolescência de Bond
Operação Skyfall, talvez tenha sido um dos filmes mais inovadores da filmografia de 007, mostrando-se atual no que se refere aos conflitos e ataques cibernéticos. Na sua defesa no tribunal, M diz que as guerras mudaram, os inimigos são cada vez mais difíceis de serem reconhecidos. Os ataques não são feitos por países, nações ou grupos necessariamente, mas por indivíduos. Não é preciso uma enorme tropa para atacar um estado, basta um hacker invadir um sistema para fazer um grande estrago. Não existe mais a iminência da guerra fria ou os duelos com os soviéticos malvados. O inimigo não possui mais um rosto facilmente identificável.
O filme explora bem o conceito da onipotência, da onipresença e onisciência da computação e por outro lado, mostra também a fragilidade na segurança dos sistemas de informação. Em uma grande parte de Operação Skyfall revela-se a obsolescência dos agentes de campo, devido ao poder acumulado pela informática. Do que adianta um super soldado se ele não será capaz de deter uma ofensiva cibernética?
Nas últimas semanas, Estados Unidos e Irã se atacaram mutuamente. Na tentativa de atrapalhar a estratégia do inimigo, os Estados Unidos assassinaram o general iraniano responsável por grande parte da inteligência do exército. O atentado ocorreu por um drone, que o identificou por reconhecimento facial. Ou seja, não foi necessário um exército para realizar a emboscada.
Muitos dos avanços da humanidade, seja pela questão da saúde ou da qualidade de vida, são atribuídos à tecnologia. Por outro lado, ironicamente, a tecnologia produz um trágico efeito colateral, com a informática, nunca estivemos tão inseguros e expostos. Além disso, nos tornamos extremamente dependentes, caso haja alguma alteração nos sistemas é difícil revertê-las e as vezes até percebê-las. Como nos casos em que os hackers invadem contas bancárias e roubam centavos de vários clientes.
É interessante explorar o significado do título do filme. Apesar de Skyfall fazer referência às origens de James Bond, talvez haja um sentido mais profundo. O termo “skyfall” traduzido literalmente significa queda do céu, e é válido lembrar das várias quedas de 007 no decorrer do filme. Seja por não impedir o vazamento do HD, não proteger M, entre outros.
A queda do céu do agente mais famoso do cinema pode ser vista como uma tentativa de humanizá-lo, modificando assim o seu caráter quase divino de outrora. Nesse sentido, cair do céu talvez represente uma quebra na idealização do personagem, mostrando-se insuficiente para as demandas da contemporaneidade. Se um dia o mundo não era o bastante para Bond, atualmente talvez ele não seja páreo para o mundo cibernético. Ainda assim, seu vasto universo cinematográfico caminha para o 25º filme…