Indo direto ao ponto e definindo de forma ágil as questões deixadas no último episódio da segunda temporada, Mr. Robot retornou para o seu terceiro ano entregando um episódio com o ritmo lento, mas com bons avanços em sua trama. A prometida tentativa de desintegração de Elliot (Rami Malek) nos deu visões distintas do protagonista e novas perspectivas para a série.
De forma geral, o episódio não direcionou sua narrativa para o mistério, algo que foi predominante em praticamente toda a trama da segunda temporada. Ao invés disso, a tensão entre os personagens foi explorada de maneira acertada. A interação entre eles, a confiança frágil em que se encontram essas relações e a manutenção da atmosfera densa mostram que há um vislumbre de uma nova fase para a série.
Um dos acertos de Mr. Robot foi iniciar a terceira temporada no mesmo ponto onde vimos os últimos instantes do ano anterior. Sob a ótica de Irving, personagem de Bobby Cannavale, sabemos que a nova adição ao elenco está ali com uma função importante: manter o controle para o Dark Army. Seu cartão de visitas é um aviso de que o personagem pode ser cômico mas também intimidador, portanto não se engane. E se o controle de Elliot era apenas uma ilusão na temporada anterior, aqui ele parece ser primordial para os planos da organização. É preciso manter o hacker nos trilhos, como aparentemente está acontecendo com Tyrell Wellick (Martin Wallström). Para isso, uma personagem será fundamental.
Firmando-se como uma das mais ambíguas e imprevisíveis personagens da série, Angela (Portia Doubleday) já demonstrou ter papel fundamental para esse novo arco. Sua presença tem como objetivo manter Elliot nos trilhos e assegurar que Mr. Robot faça o seu trabalho e conclua o que planejou. O relacionamento de Elliot com Angela é absolutamente intrigante neste episódio. O mais interessante é que, mesmo se dividindo entre E Corp, Dark Army e Fsociety, ainda não sabemos exatamente qual é a real intenção da personagem, o que a torna uma das melhores coisas que poderemos ver este ano. E sim, é bem possível que em algum momento ela possa ceder a algum avanço amoroso para manter as rédeas. Veremos.
Agora não temos somente um Elliot que retoma a confiança com o espectador, mas que quebra a quarta parede. Mesmo que seja fruto de sua mente e não em uma ação concreta. Uma das melhores cenas é quando ele faz um monólogo de auto-indulgência, com criticas ao consumismo e à revolução. Mesmo sendo feito de uma forma que já experimentamos e que soa até como uma certa pretensão do diretor e roteirista do episódio Sam Esmail, criador da série. A sequência nos mostra, porém, que Rami Malek já está tão à vontade no papel que uma ideia reciclada ainda funciona. Os recortes de imagens e trechos que envolvem a política norte-americana também representam uma boa sacada.
O início de temporada continua a explorar as consequências da derrocada da Fsociety. O maior expoente disso é Darlene (Carly Chaikin), que carrega consigo uma angústia crescente, além das crises de pânico que cada vez mais se intensificam. Com Cisco morto e Mobley e Trenton fora do radar, sua paranoia continua sendo algo que ainda poderá ser destrutivo. Sua maior dúvida é sobre a fase 2 e se de um lado temos Angela trabalhando com o alter ego de Elliot, para dar continuidade ao plano, do outro teremos Darlene tentando impedir isso. Será interessante acompanhar esse antagonismo.
A sinopse da terceira temporada de Mr. Robot já apontava para a luta de Elliot contra o seu outro eu. O mais interessante agora é que após ser baleado, as coisas assumiram um novo caráter. Agora há mais autonomia pra Mr. Robot, e também para Elliot, pois os dois parecem ser cada vez mais distintos.
Neste momento vemos o Mr. Robot de Christian Slater – cada vez melhor diga-se – falando diretamente com outros personagens, algo que vimos apenas com Tyrell, lá na primeira temporada. Além disso, é possível ver cada vez mais Rami Malek sendo Mr. Robot, como por exemplo nas cenas com Angela e Irving. As personalidades estão cada vez mais antagônicas, em contraponto ao corpo que de forma inversa, enraíza as duas personalidades.
Em eps3.0_power-saver-mode.h, dá para notar um certo ar de ficção científica retornando em Mr. Robot. Seja nas instalações onde Whiterose (BD Wong) fala sobre a importância de Elliot, seguido por uma abertura digna de filmes de exploração espacial, ou até mesmo na enigmática fala de Angela Moss, sobre a possibilidade de “resetar” todos os acontecimentos vividos por eles. É bom lembrar: série já chegou a flertar com essa temática anteriormente, até mesmo nas entrelinhas pela maneira como o líder do Dark Army trata o tempo. No entanto, nada disso foi abordado.
A direção de Sam Esmail manteve alguns padrões estéticos da segunda temporada, demonstrando a desorientação das personagens através de seus enquadramentos deslocados. No entanto, houve uma quantidade surpeendente de cores, tanto no restaurante onde Irving é apresentado, ou no salão onde Elliot utiliza os computadores. Também tivemos belo plano longo quando Elliot chega ao local onde vários hackers estão reunidos, com a câmera passeando com os personagens.
Mantendo o pé no chão, o retorno de Mr. Robot nos deu uma boa visão do que iremos assistir nesta temporada. Há personagens que ainda precisamos ver, como Phillip Price, Dominique DiPierro e Joanna Wellick. No entanto, ao focar na breve mas eficiente volta de Elliot ao jogo, o episódio manteve o foco e mesmo contido, teve a capacidade de reposicionar as peças para um novo ciclo.
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